Marllus
Marllus Cientista da computação, mestre em políticas públicas, professor, poeta, escritor, artista digital e aspirante a tudo que lhe der na telha.

Processos ecológicos em agricultura sustentável - Parte 9

Processos ecológicos em agricultura sustentável - Parte 9
Plantio em bordadura - Embrapa Hortaliças

No capítulo 20, Gliessman faz um ​ review sobre todos as discussões do livro, dando um enfoque maior na questão da transição de agroecossistemas convencionais para sustentáveis. Uma das informações importantes deixadas por ele é que quanto maior a similaridade estrutural e funcional de um agroecossistema com os ecossistemas naturais existentes em uma região biogeográfica, maior a probabilidade​ ​ de​ ​ que​ ​ este​ ​ agroecossistema​ ​ seja​ ​ sustentável.

Ainda nesse contexto, o autor relaciona as práticas de muitos agroecossistemas tradicionais à permanência destes no local onde estão inseridos, ensejando uma prova de que são mais estáveis, ecológica e socialmente, pelo fato de estarem sobrevivendo a um longo período de tempo na história. Por isso, os estudos sobre os sistemas tradicionais contribuem muito com o desenvolvimento de práticas​ ​ de​ ​ conversão​ ​ para​ ​ um​ ​ ​ manejo​ ​ ecologicamente​ ​ consistente.

Algumas iniciativas já estão sendo realizadas para alteracāo da forma do manejo dos ecossistemas cultivados, como, por exemplo, a conversão de agroecossistemas convencionais para mais sustentáveis no estilo de manejo orgânico, a substituição de insumos externos industriais por insumos mais benignos, como fixadores de nitrogênio, controle biológico na produçāo, rotações, cultivo múltiplo e agrofloresta. Um dos pontos muito importantes nessa conversão é a participação dos pequenos produtores às inovações desse manejo, pois, através deles, esse conhecimento pode ser difundido para outros, democratizando o acesso da comunidade. Um ótimo exemplo dessa relação foi o ocorrido entre a Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Estado do Ceará na implantação de Sistemas​ ​ Mandala​ ​ no​ ​ interior​ ​ do​ ​ estado.

No entanto, importante e difícil é a distinção de agroecossistemas que degradam ou não suas bases internas com as práticas agrícolas. Por isso, Gliessman se mostra bem incisivo em relação à promoção de pesquisas na área da agroecologia, pelo fato de esta ainda carecer de muitos estudos para testes, avaliação e aprimoramento de práticas relacionadas ao manejo agroecológico. Uma pesquisa rápida no Portal de Periódicos da Capes mostrou que os anseios de Gliessman à época da escrita do livro (2000) estão sendo alcançados. Entre 2001 e 2017, foram publicados 6.345 periódicos revisados por pares, enquanto que no período de 1960 a 2000 somente 1.036, ou seja, após o lançamento do livro já foram publicadas 6 vezes mais produções acadêmicas sobre o tema somente em um intervalo de 16 anos (menos da metade do tempo desde a primeira citação do termo na literatura até à publicação do livro​ ​ em​ ​ questão​ ​ - ​ 1960-2000).

O capítulo 21 encerra o livro como um manifesto político, cultural e ideológico. É perceptível a crítica do autor à posição cega na tecnologia aplicada à agricultura, desde a revolução verde. A mentalidade NPK, citada pelo agrônomo inglês Albert Howard (1940), é um exemplo disso, a qual foi um fator crasso para a mudança da percepção da agricultura atual de que uma planta só necessita​ ​ de​ ​ nitrogênio,​ ​ fósforo​ ​ e ​ ​ potássio​ ​ para​ ​ seu​ ​ desenvolvimento​ ​ pleno.

Se o poder público (com políticas públicas sociais), entidades de segundo e terceiro setor e ciência não se mobilizarem no sentido da promoção de práticas com menores impactos na agricultura junto aos pequenos agricultores (que realmente produzem alimentos para pessoas - e não ​ commodities) a sustentabilidade mundial nos agroecossistemas sempre ficará com o ​ status ​ de utopia, pois, citando Wendell Berry (1971) “é preciso tratar toda a questão da saúde, do solo, das plantas, dos animais e do homem,​ ​ como​ ​ um​ ​ único​ ​ grande​ ​ tema”.


2. Quais as mudanças principais que devem ocorrer na forma como os agroecossistemas convencionais de hoje em dia são manejados, para que eles contribuam com a conservação da biodiversidade, satisfazendo, ao mesmo tempo, as necessidades humanas de produção de alimentos?

Eliminando a necessidade do uso de insumos externos (de origem cultural industrial) através da inserção de manejos ambientais mais conscientes em relação à preservação e promoção da biodiversidade, como o manejo em nível de paisagem.

5. Que tipos de critérios devem ser usados para determinar que espécies são mais importantes para preservação e favorecimento da paisagem agrícola?

  • Inimigos naturais para pragas atuais;
  • Populações benéficas que podem colonizar uma área de borda, como abelhas;
  • Espécies nativas como matas ciliares, produzindo efeito tampão;
  • Espécies de borda para proteção contra vento, umidade, temperatura e radiação;

Resumo e respostas do capítulo 20 e 21 - “Fazendo a transição para a sustentabilidade” e “Da agricultura sustentável a sistemas alimentares sustentáveis” do livro “Agroecologia: Processos ecológicos em agricultura sustentável”. Stephen R. Gliessman. 2001”.
Mestrado Profissional em Políticas Públicas e Gestão da Educação Superior - POLEDUC/UFC. Ano: 2018
Disciplina: Agroecologia